Índio Guajajara durante apresentações na abertura da Conferência Indígena. Foto: Patrícia Zerlotti (Fonte da imagem)
Povo guajajara é vítima de terror e morte anunciada (10/05/2006, local: São Luiz - MA, Fonte: Jornal Pequeno - matéria publicada no site Amazonia.org.br )
Em 1979, durante a conclusão dos estudos antropológicos para a demarcação da terra Bacurizinho, do povo guajajara, políticos e fazendeiros do município de Grajaú utilizaram-se de todos os recursos para impedir que o Estado reconhecesse o direito dos índios. Inúmeras foram as vezes em que aldeias inteiras foram incendiadas, a mando de fazendeiros, procurando forçar a expulsão dos guajajaras de suas terras. No mesmo ano em que o trabalho antropológico foi concluído, a face mais cruel destes fazendeiros foi revelada nos assassinatos dos caciques Antônio Leão Guajajara, esquartejado e atirado em um rio, e Valdomiro Guajajara, carbonizado para dificultar a identificação de seu corpo. Até hoje ambos os crimes permanecem sem solução. Depois de muita luta, veio a primeira vitória para os guajajaras, em 1984, quando a terra indígena foi finalmente homologada. No entanto, as pressões da elite local deram resultado. Dos 145 mil hectares da terra do Bacurizinho, somente 82.432 hectares foram reconhecidos. Assim, aldeias centenárias, localizadas nos 62.568 hectares não reconhecidos pelo Estado, ficaram de fora dos limites da demarcação. A exclusão desta terra abriu espaço para a ação de invasores, que praticam o corte ilegal de madeira para as carvoarias, o plantio irregular de soja, eucalipto e arroz, e que devastam uma das últimas áreas preservadas do cerrado maranhense.
Morte anunciada
No dia 18 de maio de 2005, três dias antes de morrer, o cacique da aldeia Kamihaw (uma das aldeias que ficou fora dos limites do Bacurizinho), João Araújo Guajajara, de 70 anos, registrou ocorrência na delegacia da Polícia Civil de Grajaú (delegado Michel de Sousa Sampaio), denunciando constantes ameaças de morte feitas pelo pistoleiro Milton Alves Rocha, conhecido como “Milton Careca”. O pistoleiro dava até o fim do mês de maio para que os moradores de Kamihaw deixassem a aldeia, antes de serem mortos. Nos dois dias que se seguiram o cacique e seu povo insistiam na denúncia, porém nenhuma providência foi tomada. Foi então que, em 21 de maio, dez dias antes de terminar o prazo, um grupo formado por oito homens fortemente armados comandados por “Milton Careca”, invadiu a aldeia Kamihaw e assassinou o cacique João Araújo Guajajara com dois tiros na altura do peito, à queima-roupa. Além de assassinar o cacique, o grupo queimou uma casa, estuprou a jovem indígena D. S. e feriu Wilson Araújo Guajajara com um tiro na cabeça – ambas as vítimas eram filhos de Araújo. Um outro guajajara também foi alvejado com um tiro na perna direita. Os filhos de “Milton Careca” – Gilson Silva Rocha e Wilton Rocha – são apontados pelas vítimas como os executores do crime de estupro. Mas dos criminosos, somente “Milton Careca” foi preso, todos os outros continuam livres.
Marcados para morrer
Segundo moradores de Grajaú, outras 10 lideranças guajajaras ainda fazem parte de uma lista de jurados de morte pelo mesmo grupo de pistoleiros que assassinou o cacique João Araújo Guajajara. Além das lideranças guajajaras, missionárias do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que trabalham em Grajaú, também foram perseguidas e ameaçadas pelos homens que atentaram contra a vida dos indígenas. “Um dos criminosos identificado pelos índios, nos perseguiu com um carro”, afirmou a missionária Maria de Jesus Fernandes. Os mais expostos à ação dos pistoleiros são os familiares de João Araújo, como Antônio Guajajara, genro do cacique Araújo. Em protesto contra a violência dos pistoleiros, os guajajaras destruíram a ponte que dá acesso à aldeia Kamihaw, destruíram alguns fornos das carvoarias que atuam de forma ilegal em suas terras e retiveram um trator, exigindo a prisão dos responsáveis e a presença de autoridades, sem que ninguém ficasse ferido. Isto foi o suficiente para a imprensa local transformar as vítimas em criminosos, tachando os guajajaras de “vândalos” e “selvagens”, dando sempre a versão do “produtor rural” Milton Alves. Em nenhum dos veículos de comunicação do estado do Maranhão foi publicada a versão dos guajajaras.
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