sexta-feira, 28 de março de 2008

Um déspota romano impõe a vacinação (charge de 1904)


Abaixo a Vacina!
(Fonte das informações e imagem: Educaterra )

Entre os dias 10 e 15 de novembro de 1904, durante quase uma semana, o Rio de Janeiro, então capital federal da República do Brasil, virou numa praça de guerra. De um lado, alinhavam-se a polícia, as tropas do exército, pelotões de marinheiros e os agentes da saúde pública; do outro, um povo inteiro em fúria, alçado contra a lei da vacinação obrigatória, aprovada na Câmara Federal no dia 31 de outubro de 1904. Foi a maior revolta popular do Rio de Janeiro e talvez a maior insurgência urbana da história do Brasil.
Rio, hospital a céu aberto - Se bem que o Rio de Janeiro daqueles tempos não tivesse nenhum buraco negro como em Calcutá, um sumidouro abrasante de homens brancos, a capital do império em termos de higiene e saúde pública era um pavor. A paisagem sim, belíssima, de extasiar, mas as condições de vida para quem vinha da Europa eram de assustar.
O Conde Gobineau, embaixador francês no Brasil e amigo do imperador D. Pedro II, mal desembarcou em 1869, foi derrubado por uma febre que o prostrou por seis meses. Deixou dito que o Rio de Janeiro era um "deserto povoado de malandros" e passou boa parte do tempo alarmado em contrair um febrão mortal. Podia ter sido eleito por qualquer das desgraças tropicais: a peste bubônica, a febre amarela ou a varíola, entre tantas outra mais, visto que a cidade acolhia todas as pandemias existentes. Era um hospital a céu aberto.
Os cortiços e as febres - Salvando-se o bairro do Botafogo, morada do Conselheiro Aires de Machado de Assis, e o bairro do Flamengo, o centro da cidade era medonho. Ali, da beira do cais estendendo-se até os morros da Saúde e da Providência, concentrava-se a república dos cortiços. Um mar de casebres, colados uns aos outros, que parecia não ter fim.
Com abolição de 1888, a situação urbana piorara. Milhares de ex-escravos, largados sem nada do eito, deram com os costados por lá. Viviam ao deus-dará. É possível que eles perfizessem um terço dos 720 mil habitantes da capital federal. O ponto determinante que levou as autoridades republicanas a dar um basta, a por um fim naquilo, naquele matadouro invisível, foi a morte em massa de marinheiros italianos.
Em 1895, 240 tripulantes da fragata "Lombardia", em visita à cidade, caíram atacados pela febre amarela. Em uma semana, 144 deles morreram, inclusive o comandante da nave. Como chamar imigrantes (então política oficial de Estado retomada pelo regime de 1889), para virem para o Brasil com aquilo? Ainda assim, qualquer ação mais enérgica terminou adiada. Na Bahia, o Conselheiro punha fogo no sertão, e com isso, por um tempo, foram-se os recursos da república.

4 comentários:

  1. Ursa, aqui no Rio a dengue está parecendo com essas doenças antigas que você descreveu nesse post. É causada não só por nosso clima tropical, mas principalmente porque existe muita gente ordinária e porca que não tem a menor noção de higiene.
    Hoje conversei com um amigo infectologista e ele me disse que dengue é uma doença, não de terceiro, mas de quinto mundo.

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  2. Jôka, a maior causa da epidemia de dengue foi o descaso dos governos municipal e estadual do Rio e do federal. Porque, no ano passado, já estavam alertando para os perigos da dengue no verão deste ano. Agora, que a coisa descontrolou, é muito mais difícil solucionar. Beijos da Ursa

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  3. Menina!!!!!!!!!!!!!

    TEm coisas que só lendo mesmo para acreditar...
    144 tripulantes de um mesmo navio morrer em uma semana?
    Meu Deus que loucura...
    Valeu as informações
    abs

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  4. Bandeiras, essa história do navio virou mito. Contam que, até hoje, o navio fantasma é visto às vezes. Beijos da Ursa!

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