segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Rios e igarapés da Amazônia, que antes cortavam a floresta, hoje se restringem a estreitos fios d'água.

Estiagem já causou morte de seis crianças
(Da Redação - Fonte:
Folha Online, matéria do dia 23/10/2005 )
A seca no Amazonas já matou pelo menos seis crianças, cinco delas indígenas, com diarréia. Segundo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), as mortes estão diretamente relacionadas à escassez de água potável e também à seca, que está se prolongando desde o mês de agosto.O problema é mais grave entre os índios ticunas, que moram em aldeias da região do alto Solimões, onde os lagos continuam secos. A Funai (Fundação Nacional do Índio) confirmou mortes por diarréia também na aldeia Feijoal, em Benjamin Constant e em São Paulo de Olivença.De acordo com a Funai, 83.966 índios vivem no Amazonas, sendo 35 mil deles no alto Solimões.Desde o agravamento da seca, os índios abriram cacimbas nas margens dos rios para beber água.De acordo com a Funai, as mortes estão acontecendo porque a água está contaminada e porque a maioria dos índios não utilizou o hipoclorito de sódio -que purifica a água- porque o produto não chegou às aldeias.

"Vi boi morrer na lama", diz Thiago Mello (Fonte)
(Fabiane Leite - Da Reportagem local)
Culpa do homem ou castigo do Jurupari, o grande deus da floresta, a seca que atinge o Amazonas é a pior de todos os tempos, afirma Thiago de Mello, 79, amazonense considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. "Como essa, jamais", diz o poeta, que, depois de exilado durante a ditadura, vive no Estado há 26 anos.Há seis dias Mello voltou espantado de Barreirinha, a 328 km de Manaus, onde mora em uma casa projetada pelo arquiteto Lúcio Costa, à beira do rio Andirá."Quando há seca, fica uma praia de 500 metros na frente da casa. Agora, vi a seguinte paisagem: mais de um quilômetro de praia e, quando ela termina, mais de 500 metros de lama. O barco não atraca, é uma lama perigosa, cheia de arraias. Você tem de ir em uma canoa rasa, chega a um lugar que nem a canoa adianta e a lama atola até a metade da perna. O dado mais impressionante é o poço artesiano, atrás da casa, que está dando menos de um terço de água. Essa é a realidade hoje em pelo menos 15 municípios do interior", disse Mello na última sexta-feira em conversa por telefone com a Folha. Ele estava em Recife por causa de um compromisso.A paisagem triste descrita pelo poeta tem ainda milhares de peixes mortos, entre peixes-boi e tambaquis. "Nas beiradas dos rios o boi desce e morre atolado na lama. Isso eu vi com os meus olhos pela primeira vez desde que voltei", relata. "O rio mais caudaloso do planeta, neste momento, não tem água para o peixe, não tem água potável, não tem água para passagem de barcos. E lá o povo depende da água", continuou.Mello esteve folheando algumas de suas anotações e percebeu que, na última década, o tempo vinha em mudança. "Diminuiu a friagem, o vento da mata."Dos caboclos ele ouve, e acredita, na versão de que Jurupari quer castigar os madeireiros, pecuaristas e plantadores de soja que fazem incêndios criminosos.Dos institutos de pesquisas e de seus estudos, chegam as informações de que o aquecimento global pode ser a origem da estiagem no Amazonas."Mas, no caso amazônico, é a devastação o motivo, porque a grande causadora de chuva é a evaporação que vem da copa das árvores. Elas retêm água, mandam ao espaço, e formam-se as nuvens, que voltam em forma de chuva. Na minha opinião, do que estudei, toda ação provoca uma reação", afirma Mello.

6 comentários:

  1. Angela Ursa, boa noite, bom dia.

    Hoje, chorei ao ver a foto de dois botos mortos em um leito seco de rio.
    É tão inacreditável isso...essa foto que vc postou...esses fios de água na Amazônia, que quase chego a acreditar no apocalipse, apesar da minha mente racional saber que essa destruição vem sendo construída há muito, muito tempo.

    Beijos

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  2. Saramar, que triste notícia essa! Os botos são animais tão bonitos, dóceis e inteligentes, como os golfinhos; e símbolos da Amazônia.
    Beijos!

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  3. Angela, onde estão os governadores de Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Mato Grosso que permitem essa devastação? Ou eles também são madeireiros e criadores de gado??

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  4. Ana, boa pergunta a sua. A gente fica indignada com a omissão das autoridades e a falta de medidas urgentes diante dessa calamidade! Beijos!

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  5. Ursa
    Esta floresta que você nos mostra tem ao mesmo tempo beleza e tristeza.
    Espero que "Jupuari"acorde os homens a tempo de salvar para as próximas gerações o que ainda pode ser salvo.

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  6. Margaret, eu gostaria muito que o lado triste da floresta não fosse real. Beijos!

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