Rios e igarapés da Amazônia, que antes cortavam a floresta, hoje se restringem a estreitos fios d'água.
Estiagem já causou morte de seis crianças
(Da Redação - Fonte: Folha Online, matéria do dia 23/10/2005 )
A seca no Amazonas já matou pelo menos seis crianças, cinco delas indígenas, com diarréia. Segundo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), as mortes estão diretamente relacionadas à escassez de água potável e também à seca, que está se prolongando desde o mês de agosto.O problema é mais grave entre os índios ticunas, que moram em aldeias da região do alto Solimões, onde os lagos continuam secos. A Funai (Fundação Nacional do Índio) confirmou mortes por diarréia também na aldeia Feijoal, em Benjamin Constant e em São Paulo de Olivença.De acordo com a Funai, 83.966 índios vivem no Amazonas, sendo 35 mil deles no alto Solimões.Desde o agravamento da seca, os índios abriram cacimbas nas margens dos rios para beber água.De acordo com a Funai, as mortes estão acontecendo porque a água está contaminada e porque a maioria dos índios não utilizou o hipoclorito de sódio -que purifica a água- porque o produto não chegou às aldeias.
"Vi boi morrer na lama", diz Thiago Mello (Fonte)
(Fabiane Leite - Da Reportagem local)
Culpa do homem ou castigo do Jurupari, o grande deus da floresta, a seca que atinge o Amazonas é a pior de todos os tempos, afirma Thiago de Mello, 79, amazonense considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. "Como essa, jamais", diz o poeta, que, depois de exilado durante a ditadura, vive no Estado há 26 anos.Há seis dias Mello voltou espantado de Barreirinha, a 328 km de Manaus, onde mora em uma casa projetada pelo arquiteto Lúcio Costa, à beira do rio Andirá."Quando há seca, fica uma praia de 500 metros na frente da casa. Agora, vi a seguinte paisagem: mais de um quilômetro de praia e, quando ela termina, mais de 500 metros de lama. O barco não atraca, é uma lama perigosa, cheia de arraias. Você tem de ir em uma canoa rasa, chega a um lugar que nem a canoa adianta e a lama atola até a metade da perna. O dado mais impressionante é o poço artesiano, atrás da casa, que está dando menos de um terço de água. Essa é a realidade hoje em pelo menos 15 municípios do interior", disse Mello na última sexta-feira em conversa por telefone com a Folha. Ele estava em Recife por causa de um compromisso.A paisagem triste descrita pelo poeta tem ainda milhares de peixes mortos, entre peixes-boi e tambaquis. "Nas beiradas dos rios o boi desce e morre atolado na lama. Isso eu vi com os meus olhos pela primeira vez desde que voltei", relata. "O rio mais caudaloso do planeta, neste momento, não tem água para o peixe, não tem água potável, não tem água para passagem de barcos. E lá o povo depende da água", continuou.Mello esteve folheando algumas de suas anotações e percebeu que, na última década, o tempo vinha em mudança. "Diminuiu a friagem, o vento da mata."Dos caboclos ele ouve, e acredita, na versão de que Jurupari quer castigar os madeireiros, pecuaristas e plantadores de soja que fazem incêndios criminosos.Dos institutos de pesquisas e de seus estudos, chegam as informações de que o aquecimento global pode ser a origem da estiagem no Amazonas."Mas, no caso amazônico, é a devastação o motivo, porque a grande causadora de chuva é a evaporação que vem da copa das árvores. Elas retêm água, mandam ao espaço, e formam-se as nuvens, que voltam em forma de chuva. Na minha opinião, do que estudei, toda ação provoca uma reação", afirma Mello.
segunda-feira, 24 de outubro de 2005
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6 comentários:
Angela Ursa, boa noite, bom dia.
Hoje, chorei ao ver a foto de dois botos mortos em um leito seco de rio.
É tão inacreditável isso...essa foto que vc postou...esses fios de água na Amazônia, que quase chego a acreditar no apocalipse, apesar da minha mente racional saber que essa destruição vem sendo construída há muito, muito tempo.
Beijos
Saramar, que triste notícia essa! Os botos são animais tão bonitos, dóceis e inteligentes, como os golfinhos; e símbolos da Amazônia.
Beijos!
Angela, onde estão os governadores de Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Mato Grosso que permitem essa devastação? Ou eles também são madeireiros e criadores de gado??
Ana, boa pergunta a sua. A gente fica indignada com a omissão das autoridades e a falta de medidas urgentes diante dessa calamidade! Beijos!
Ursa
Esta floresta que você nos mostra tem ao mesmo tempo beleza e tristeza.
Espero que "Jupuari"acorde os homens a tempo de salvar para as próximas gerações o que ainda pode ser salvo.
Margaret, eu gostaria muito que o lado triste da floresta não fosse real. Beijos!
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