Bebê Xavante - Aiuté te nomro tsi õ to re. (Foto Laercio Miranda - Fonte)
Povo Xavante lança livro e pede reconhecimento de práticas tradicionais de saúde (Monique Maia, da Agência Brasil)
Brasília - O parto por cesariana de mulheres indígenas motivou o povo da etnia Xavante a elaborar o livro Ai´Utedzapari´Wa Nõri Parteiras A´Uwê Xavante (aquela que recebe a criança) que reúne o conhecimento tradicional do povo Xavante e o registro cuidadoso de suas técnicas medicinais, alimentícias e ritualísticas.
O livro será lançado no Primeiro Encontro Parteiras Xavante, de 21 a 24 de maio, em Brasília. O evento será realizado pela Associação Xavante Warã, em parceria com a Coordenação Geral de Educação da Fundação Nacional do Índio (CGE-Funai), Área de Medicina Tradicional Indígena – Projeto Vigisus II - Funasa e Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN).
De acordo com o representantes da Associação Xavante Warã, Hiparidi Top'tiro, o livro pretende ajudar na construção de politicas públicas voltadas para a saúde indígena. “É preciso construir políticas conforme a nossa realidade e com a nossa participação”, defende.
Top'tiro, que também coordena o projeto Valorização das Práticas de Parto Tradicional: Dieta Alimentar e Medicinal na Gestação e Parto, reuniu todas as informações para a elaboração do material. Segundo ele, o número de cesarianas triplicou entre as mulheres xavantes. “Isso tira o valor das parteiras, que em vez de praticarem o seu conhecimento estão sendo deixadas de lado”, adverte.
O índio Xavante aponta o livro como ponto de partida para o desenvolvimento de políticas públicas, mas reconhece que existe o risco em relação à patentes e à perda de tradições. “Sabemos que divulgando os nossos conhecimentos, existe um ganho e uma perda. A perda maior vai ser que os conhecimentos se enfraquecerão, se tornarão um conhecimento comum, e por conta disso haverá perda da questão espiritual, mas o resultado positivo será a politica pública”.
O presidente interino da Fundação Nacional do Índio (Funai) e diretor de Assistência Social da fundação, Aloísio Antônio Castelo, disse que a apresentação desses conhecimentos é importante para ajudar a combater o preconceito da sociedade em relação aos povos indígenas.
“Precisamos mostrar que esses povos são ricos culturalmente e precisam ser respeitados”.