Índios - Com o canudo na mão
(Fonte: Diário de Cuiabá - trecho de matéria publicada no site Amazonia.org.br)
Primeiros indígenas a concluir o curso superior voltam às aldeias com muito mais do que um mero pedaço de papel
Os diplomas estão todos muito bem guardados. Entregues dentro de um envelope plástico - para evitar que ficassem marcados pelas pinturas corporais de seus destinatários - muitos deles continuavam assim, intocados, quase quatro dias após a cerimônia de colação de grau. O mesmo se pode afirmar em relação às lembranças da bela festa, realizada em Cuiabá na último dia 7 de junho.
“Nunca vou me esquecer. Foi uma emoção muito forte, que não tem explicação”, emociona-se Edna Monzilar, um dos nove representantes da etnia Umutina dentre os 198 índios formados pela primeira turma do projeto Terceiro Grau Indígena, da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).
Graduada em Ciências Sociais, ela retornou à Terra Indígena Umutina (localizada no município de Barra do Bugres, a 170 quilômetros de Cuiabá) com o diploma nas mãos e muitas idéias na cabeça. “Quero discutir a nossa história, antes e depois do contato, as mudanças, o conhecimento da terra. E espero conseguir envolver a comunidade”.
Pioneiros na América Latina, os novos professores indígenas têm a partir de agora a grande responsabilidade de fazer florescer, na prática, os objetivos que motivaram a implantação do curso em 2001. Mais do que uma oportunidade de formação superior, o projeto representa a oportunidade de mudança nas bases da educação indígena (ver matéria).
“Não nos tornamos professores para formar mão de obra para o mercado de trabalho fora das aldeias. Temos que assegurar uma formação voltada para a nossa realidade e a nossa cultura, para que as futuras gerações vivam e trabalhem aqui”, explica Filadelfo de Oliveira, umutina formado em Ciências Matemáticas e da Natureza e diretor da Escola Estadual de Educação Indígena Jula Paré.
O nome da escola é uma homenagem a um dos mais importantes sobreviventes do processo de contato que, ao longo das décadas de 1910 e 1940, reduziu a população Umutina a pouco mais de 20 indivíduos. Morto em 2004, Jula Paré era o último falante do idioma e um depositário de lendas e tradições que jamais serão recuperadas.
O trabalho dos novos professores, na opinião de recém-formada Maria Alice Cupodonepá, é assegurar que nenhuma outra destas conexões seja perdida. E mais: trabalhar para que as novas gerações ajudem a dar vida e a reatar os laços com o passado. “Durante o curso, aprendemos a valorizar as nossas características, nossa especificidade. Queremos que nossos alunos aprendam o mesmo”.
Neste processo, ensina ela, os idosos serão as principais fontes de pesquisa. Serão “livros vivos”, como ela gostar de qualificar. “Temos de buscar os ensinamentos dos mais velhos, estudar o que eles dizem, trazer o muito que sabem para dentro da sala de aula. Isso significará a revitalização da nossa cultura”.
Entre as mudanças já implementadas desde o início do projeto, está o uso cada vez maior de expressões e palavras recuperadas do idioma original umutina. Na escola que leva o nome do último falante, há cartazes por toda parte explicando o significado de muitas delas. “Já estamos percebendo a mudança. As crianças já não têm vergonha de usar pinturas, de dançar e cantar nossas músicas. A escola, por aqui, se tornou uma referência cultural para todos os umutina"
Estes projectos educativos têm uma importância decisiva na preservação de uma cultura ancestral em risco de deaparecer.
ResponderExcluirA introdução de pessoas naturais das regiões dessas próprias culturas é uma mais valia inegável, já que permitirá potenciar o auto-conhecimento dos seus próprios habitantes, os quais aprenderão a valorizar (e a não se envergonharem por comparação com as culturas dominantes) da riqueza dos seus usos, costumes e tradições.
O teu post, por isso, é merecedor dos meus mais sinceros elogios.
Ainda bem que te conheci amiga Ursa (serás tu, porventura, uma das pessoas do curso? Vou investigar...).
Beijinhos.
"Há muitas luas atrás, minha tribo estava reunida em volta da fogueira numa noite muito quente, quando se ouviu um barulho forte na mata. [...] Foi assim que ganhei o nome de Ursa Sentada quando nasci, em homenagem ao grande animal sagrado [...] Saudações de fumaça...ooo....ooo.... Ursa Sentada"
ResponderExcluirFui ao início para ver as tuas raízes.
Parece que acertei. És índia.
Vammos ter muito que falar...
Beijinhos.
Oi, Angela! Algumas notícias que tu veículas aqui pelo blog, me deixam triste. Essa no entanto foi uma que me deixou feliz. Educação é sempre sinal de esperança. Que legal!
ResponderExcluirBeijo pra ti.
Ursa,
ResponderExcluirVocê viu como nosso amigo Jôka é chiquérrimo???!!!
POstei pra ele no meu blog hoje.
Beijos pra vc, queridona!
Tom
hoje tenho outras pinturas...simbolo da protecção a certas espécies...
ResponderExcluira não perder!!
beijos
Educação é sempre importante. Sempre.
ResponderExcluirURSA,
ResponderExcluirvim tomar um ar puro nessa floresta e agradecer as suas visitas, desde o começo me dando tanto apoio, segurança e carinho.
Sem você eu teria parado no segundo ou terceiro mês de blog.
Você é a minha amiga índia forte, leal e defensora da ecologia, da igualdade, que luta contra as discriminações, os preconceitos e as injustiças.
Aqui me sinto seguro.
Aqui nessa floresta virtual, ouvindo o canto suave do Uirapurú, sentado na sua rede e olhando a fogueira, ao seu lado.
Obrigado pelo carinho.
De coração.
Beijos
Jôka P.
:)
Ursa, querida, boa noite.
ResponderExcluirUm post emocionante este. "Livros vivos" é algo tão perfeito que fiquei imóvel, pensando na beleza da metáfora e na importância da realidade dessa forma de ver os anciãos.
Obrigada.
Beijos
Nilson, eu não sou índia. O nome Ursa Sentada foi dado a uma personagem índia que eu criei quando fiz meu antigo blog. Esse trecho que você citou é da história criada para o surgimento da Ursa Sentada. Beijos florestais! :))
ResponderExcluirLuciane, infelizmente, há bastante notícias ruins, denúncias relacionadas ao desrespeito aos direitos indígenas e ao meio ambiente. Mas ainda bem que existem também as boas! :)) Beijos!
Tom, o Jôka merece!! Ele é muito querido! Beijos da Ursa :))
Greentea, vou visitar seu blog daqui a pouco! :))
Janaína, você tem razão. Beijos!
Querido Jôka, você tem um lugar cativo especial na Floresta da Ursa. Sua rede está sempre pronta na oca ;)) Beijos carinhosos da Ursa!
Saramar, essa cultura é muito linda mesmo. Beijos!!
Que orgulho brilha nos olhos deles, que maravilha!
ResponderExcluirCultura rica,como é bom aprender com vc querida.
Lindo dia,
beijossssssssssss
NHAM NHAM !!!
ResponderExcluirOs bolinhos florestais que me trouxe em Copacabana vieram a calhar com o toddy-côco que estou tomando.
deliciosos quitutes...
Obrigado pelo lanchinho, URSA.
Jôka, um brinde com chá e Toddy-Coco!! Tim-tim!! Beijos da Ursa da madrugada :))
ResponderExcluirQue bom, "As crianças já não têm vergonha de usar pinturas, de dançar e cantar nossas músicas".
ResponderExcluirQuando se sabe de onde veio e se tem isso como referencia, o mundo se abre e tudo melhora, não?
Beijos, :).
Bom dia....
ResponderExcluirQue benção isso D.Ursa....
Que aconteça mais....
Bjs...
Ursa.... nao sei se eu concordo com essa de índio fazer faculdade, se formar e etc...
ResponderExcluirAcho que eles perdem todo o referencial de cultura deles com essa "influencia branca"...
Mas isso mostra tambem que eles são mais que capazes de ser como nós!
E o índio da foto é bonitão, heim! Que braço! Hahahahahahaha
Beijos pra você, Ursa!
Tom
Ursa: amei td por aqui nesta terça outonal...está muito frio na floresta?
ResponderExcluirBeijinhos bem geladinhos diretamente do meu Cotidiano.
Nanbiquara, é verdade. Beijos da Ursa!
ResponderExcluirDiana, tomara que sim. Vou ficar na torcida. Beijos!
Tom, mas a matéria mostra que eles querem preservar a cultura deles. Beijos!
Lia, aqui na floresta tem feito muito sol de dia, mas à noite esfria. Beijos e um chá para você se esquentar! ;))