domingo, 1 de abril de 2012



De volta à floresta
(Fonte: Revista Conhecer)

Xingu revive no cinema a saga dos irmãos Villas Bôas entre os índios

Filme de Cao Hamburguer narra aventuras dos três irmãos no Brasil Central
"Mais do que uma simples imagem, é uma realidade urgente e necessária galgar a montanha. O verdadeiro sentido de brasilidade é a marcha para o Oeste”. Com essas palavras, o presidente Getúlio Vargas conclamava, em 1937, os brasileiros a realizarem a ocupação das regiões do país que ainda permaneciam praticamente intocadas. E coube aos irmãos Villas Bôas (Orlando, Cláudio e Leonardo) desbravar, partindo em direção ao Oeste, as áreas ainda desconhecidas de nosso território.

Ao longo de quase 40 anos, os irmãos realizaram um trabalho pioneiro de mapeamento e contato com tribos indígenas no Norte e no Centro-Oeste, numa saga cinematográfica – agora literalmente, com a estreia, agendada para 6 de abril, do longa-metragem Xingu. Dirigido por Cao Hamburger, o mesmo autor de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, o filme narra a marcha dos sertanistas rumo ao Brasil Central e a fundação do Parque Indígena do Xingu, a maior reserva indígena do Brasil e uma das maiores do mundo.

As aventuras dos Villas Bôas começam em 1943, quando Orlando, Cláudio e Leonardo resolvem pôr em prática as lições legadas pelo pioneiro indigenista brasileiro, o marechal Cândido Rondon. Para conseguirem integrar a Expedição Roncador-Xingu – que partiu de São Paulo rumo à região sul da Amazônia – tiveram que se passar por matutos ignorantes, pois, ao apresentarem-se aos organizadores da empreitada, foram considerados “educados demais para a vida no sertão”. Orlando tinha 29 anos e Cláudio 25. O caçula Leonardo, de 23, empolgara-se pela animação dos mais velhos diante do desafio. Na época, toda a região central do Brasil era uma incógnita geográfica; não havia mapas acurados ou levantamento sobre fauna, flora e grupos indígenas. Lendas sobre feras míticas ou índios guerreiros abundavam.

A Expedição cruzou o Vale do Rio Araguaia e fez o primeiro contato com o povo Xavante, na época ainda hostil. Os Villas Bôas passaram a liderar a marcha em 1945 e estabeleceram contatos pacíficos com 14 povos indígenas no alto Xingu; em 1949, com o fim da Roncador-Xingu, a trinca resolveu permanecer na região. Continuaram demarcando os limites das áreas ocupadas de tribos desconhecidas, estabelecendo marcos territoriais e mapeando rios.

O incansável trabalho em prol da preservação dos costumes dos índios e da convivência pacífica entre o homem branco e as tribos frutificou em 1961, com a criação do Parque Nacional (hoje Parque Indígena) do Xingu. Era a primeira reserva do tipo a surgir no Brasil e Orlando Villas Bôas foi seu primeiro administrador-geral. Em 1976, Orlando e Cláudio foram indicados ao Prêmio Nobel da Paz, em honra a seus esforços em prol das nações indígenas.

Xingu, o filme, retraça os passos de Orlando, Cláudio e Leonardo rumo ao Oeste. Apesar de a equipe ter passado por vários pontos por onde os irmãos andaram (como Xavantina, no estado de Tocantins, que era a última fronteira mapeada da região quando a expedição começou), muitos dos locais não puderam ser usados nas filmagens, pois já estão muito modificados em relação à década de 1940. As aldeias indígenas, entretanto, são reais: Cao Hamburger e os atores João Miguel (Claudio), Felipe Camargo (Orlando) e Caio Blat (Leonardo) passaram uma semana vivendo com os índios Yawalapitis, no Parque do Xingu. A produção empregou 250 índigenas como extras.

O cineasta afirma: “Os Villas Bôas revolucionaram a ideia de preservação e criaram um imenso santuário sócio-ambiental que serviu e serve de referência em todo o mundo. Passamos cinco anos mergulhamos nessa história, tentando entender como os irmãos se aventuraram pelas matas ainda desconhecidas do Brasil Central e encontraram a grande paixão e a causa de suas vidas. O feito desses heróis brasileiros, pela coragem, estilo de vida, audácia e visão de futuro, deveria nos inspirar”.

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