quinta-feira, 29 de maio de 2008

Depois de serem fotografados pela primeira vez, os "índios invisíveis" reagem a flechadas em selva no interior do Acre

Índios isolados são fotografados pela 1a vez no Acre
(Trechos de matéria de Altino Machado, Rio Branco, AC - Blog do Altino Machado)

Após quase 20 horas num avião monomotor, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, comandou um sobrevôo que resultou nas primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. As mulheres e suas crianças fugiram para a floresta em busca de proteção, enquanto os guerreiros da tribo se posicionaram e reagiram atirando flechas no avião.
No verão amazônico de 2004, ao sair de sua casa para pescar, Meirelles foi alvejado com uma flecha, que entrou no lado esquerdo do rosto e saiu na nuca. No final da década de 80, numa circunstância descrita como "dramática", o sertanista viu-se obrigado a matar um índigena que tentara atingir o sogro dele.
- Nós já sabíamos da existência desses povos, mas, a partir de agora, temos a prova material de que a região é uma das poucas que abriga as últimas etnias isoladas ou desconhecidas do Planeta - afirma José Carlos Meirelles, com exclusividade para Terra Magazine.
Nas cabeceiras do Igarapé Xinane, conhecido nos mapas de geografia como Cachoeira, muito próximas ao paralelo 10º, no limite Brasil-Peru, foram fotografadas duas malocas de índios isolados. Ambas foram localizadas inicialmente, a partir dos recursos da ferramenta Google Earth, pelo sertanista Rieli Franciscato, da Frente de Proteção Etnoambiental do Javari, no Amazonas, que tratou de enviar as coordenadas ao colega dela no Acre.
- Ano passado, numa expedição, passamos próximos a este local e vimos muitos vestígios. Desconfiávamos que poderia existir maloca na região, o que se confirmou. Uma delas é bem recente e confirma a migração dos isolados para o Brasil devido a pressão da exploração ilegal de madeira nas cabeceiras do Rio Envira peruano - assinala o sertanista.
As mulheres índias do grupo de isolados que foi fotografado usam saiote de algodão. Os homens usam uma cinta de algodão na qual amarram o pênis. Raspam o cabelo até a metade da cabeça, mas a cabeleira se estende até o meio das costas. Usam tiaras e aparecem pintados de urucum (vermelho). Chama a atenção o fato de que alguns poucos aparecem pintados de jenipapo, isto é, com os corpos pretos, mas sem arco e flecha.

sábado, 24 de maio de 2008

Xingu (Fonte da imagem: O Globo On line)

Questão polêmica séria:

Será que só é o sangue indígena que pode ser derramado?
(Fonte: site Índios On line - Texto de Edcarlos (Carlinhos) Pankararu
http://www.acaopankararu.blogspot.com/ )

Que ironia da Justiça e da mídia, pois milhares de indígenas já foram exterminados desde a invasão do Brasil até hoje e nada foi feito. Os genocidas ainda estão impune, as terras indígenas são invadidas por fazendeiros, latifundiários, garimpeiros, arrozeiros, canaviais etc…nessa questão a mídia não dá ênfase, agora basta os indígenas dá um susto no engenheiro da Eletrobrás para eles divulgarem em todos os telejornais. Ressalto que não estou aqui para fazer apologia a violência qualquer que seja ela, sou contra essa atitude. Mas acho legitimo os parentes indígenas defenderes seus direitos, como venhamos lutando por direitos esses constitucionais.Para isso a Justiça foi rápida, pois a Polícia Federal já abriu inquérito, nesta quarta-feira, para apurar o que ocorreu nesse evento em Altamira (PA), com o engenheiro Paulo Rezende, onde ele teve um pequeno ferimento no braço, na terça-feira num evento realizado em Altamira (PA), sobre a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. Ai pergunto: Onde está os assassinos que covardemente tirou a vida de Galdino? Onde está os assassinos das lideranças mortas, quando defendiam suas terras? Pois essas são perguntas que não tem respostas a nossa Justiça.E agora a Justiça quer imagens de tv para prender nossos parentes, que a justiça seja feita, mais não para poucos, e sim para todos. Porque o maior presídio é Brasília, onde está a maioria dos ladrões e criminosos de todas espécies. A Justiça Federal ordenou a retomada de estudos de impacto ambiental da usina de Belo Monte, que haviam sido suspensos, pois estas questões de interesse dos povos indígenas eles vetam, mais não vão nos calar, pois se tivermos que aguar a terra com o nosso sangue, aguaremos porque daí a nossa semente vai brotar, nossas raízes vão ficar.Querem fazer o que fizeram com nos Pankararu, tomaram nossas terras para fazer a Barragem de Itaparica, onde nossas terras eram mais de 14.000 Hectares, hoje convivemos em 8.000 Hectares. Até para passarmos na Barragem temos dificuldades, porque se não esquecermos nossa identificação (Documento), temos que passar por fora da Barragem.Agora o governo quer fazer a mesma coisa com a criação da Barragem de Belo Monte no Rio do Xingu, onde vai inundar 1.200 quilômetros quadrados.
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quinta-feira, 22 de maio de 2008


CORREIO DA URSA
(Do fotográfo indonésio Rarinda Prakarsa - que desenvolveu uma técnica que dá à imagem um tom totalmente fictício, aumentando contrastes, iluminando e obscurecendo determinados detalhes)

quarta-feira, 21 de maio de 2008


O Progresso (música de Erasmo e Roberto Carlos)
(Clique AQUI para assistir este vídeo no site do YouTube)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Minc reuniu-se com o presidente Lula pela primeira vez desde o convite para comandar a pasta

Antes de tomar posse, Carlos Minc pede R$ 1 bi a Lula
(Trechos de matéria publicada em: A Tarde On line)


O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pediu nesta segunda-feira, 19, mas não conseguiu arrancar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a liberação de cerca de R$ 1 bilhão do setor ambiental que estão contingenciados, nem o uso do Exército nas reservas da Amazônia. Lula disse que pensará em como liberar o dinheiro, progressivamente, e, para o lugar das Forças Armadas, sugeriu a Minc que seja pensada a criação de uma guarda nacional ambiental, semelhante à Força Nacional de Segurança (FNS).O dinheiro reivindicado por ele é proveniente dos royalties do uso da água por hidrelétricas e empresas de saneamento, além do setor do petróleo. Normalmente, cerca de R$ 100 milhões são destinados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os outros R$ 900 milhões ajudam a cumprir a meta de superávit primário do governo. "Não sei quando e quanto sairá. Mas o presidente disse que o dinheiro sairá", afirmou.
Minc disse que levou quase uma dezena de sugestões ao presidente e que todas foram muito bem-aceitas. Entre elas, o compromisso de que será mantida a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) de veto, a partir de julho, à liberação de crédito oficial para quem estiver envolvido em crime ambiental.Havia um temor de que essa decisão fosse revogada por causa da forte pressão de fazendeiros e de governadores da Amazônia. "Foi muito importante a decisão de manter a resolução do CMN porque havia a impressão de que, com a saída da ministra Marina Silva, pudesse ocorrer uma descontinuidade das ações do ministério. Não haverá", disse Minc.

O futuro ministro anunciou ainda que sugeriu a Lula e a Dilma a criação de um centro integrado de combate aos crimes ambientais, com banco de dados e disque-denúncia. "O crime ambiental será reprimido", disse. Minc ameaçou: "Tremei, poluidores, tremei. Vai todo mundo para a cadeia. Terão de plantar muitas árvores. Serei intolerante com o crime ambiental", acrescentou. O futuro ministro disse que o presidente ficou muito entusiasmado com as idéias para o setor. "Ele falou: Minc, você pode fazer tudo, só não pode não ter idéias."

domingo, 18 de maio de 2008

Algas contra a mudança climática?
Por Julio Godoy, do Terramérica - Fonte das informações: site Mercado Ético

Pesquisas sobre o uso de algas para capturar dióxido de carbono estão mudando a percepção negativa desses organismos, vistos como uma praga associada à contaminação agrícola. Até muito pouco tempo atrás, a proliferação de algas era vista como uma conseqüência indesejável do abuso de agroquímicos, cujos resultados imediatos eram pestilência, irritações cutâneas e a morte da fauna aquática, especialmente marinha, por falta de oxigênio. Entretanto, o potencial das algas para absorver um dos gases causadores do efeito estufa, responsável pelo aquecimento do planeta, pode ser chave para evitar catástrofes ambientais. Assim como os vegetais, as algas consomem carbono durante o processo da fotossíntese.“Pegamos algas do oceano, as colocamos em recipientes plásticos em estufas onde foram alimentadas com dióxido de carbono emitido por geradores elétricos convencionais”, explicou em uma entrevista o biólogo Laurenz Thomsen, da Universidade Jacobs, na cidade alemã de Bremen. “Expostas à luz solar, as algas transformam o dióxido de carbono em biomassa que pode ser utilizada como biodiesel, cuja combustão não emite gases que causam o efeito estufa”, acrescentou.O Greenhouse Gas Mitigation Project (GGMP, Projeto de Mitigação de Gases que Causam o Efeito Estufa) é coordenado por Thomsen, em cooperação com a Universidade Superior Politécnica, também de Bremen, o Instituto Alfred Wegener para a Pesquisa Marinha e várias companhias, como o fornecedor europeu de eletricidade E.ON. Thomsen batizou de “algenreactor” (reator à base de algas) a pequena estufa experimental instada na Universidade Jacobs, onde as algas transformaram o carbono em combustível orgânico. O projeto funciona em fase experimental, produzindo até agora meio litro de biodiesel. “O diesel que refinamos aqui é absolutamente orgânico. Está dentro das normas européias. Acredito que poderemos passar para uma fase industrial nos próximos meses”, acrescentou o biólogo.Fritz Henken-Melier, diretor da Central Termoelétrica de Farge, situada nos arredores de Bremen, concorda com essa previsão. Algumas das emissões de dióxido de carbono dessa unidade que funciona a carvão foram capturadas pelo GGMP. “Seguramente, precisaremos construir uma estufa muito maior, com centenas de metros quadrados, para que a captura do dióxido de carbono e a produção de biodiesel correspondam às dimensões de uma central comercial”, acrescentou, em entrevista ao Terramérica. Henken-Melier calcula que “a captura de apenas 10% dos gases emitidos pelo gerador de Farge leva à redução de aproximadamente 600 toneladas diárias de dióxido de carbono”.Segundo Thomsen, a superfície de uma estufa capaz de absorver o dióxido de carbono de um gerador de 350 megawatts e transformá-lo em biodiesel deveria ser de aproximadamente 25 quilômetros quadrados com custo em torno dos US$ 480 milhões. A quantia é pequena quando comparada com os cultivos convencionais para obter biodiesel e reduzir os gases nocivos em dimensões semelhantes às do “reator à base de algas”. Uma plantação equivalente de canola, por exemplo, pode custar até 25 vezes mais.Porém, o projeto de Thomsen não convence a todos. “Esses cálculos são muito ingênuos”, afirmou Karl-Herrmann Steinberg, diretor da produtora de algas mais importante da Europa central, localizada na cidade alemã de Kloetze. “Os custos do cultivo de algas, eliminação da água e destilação do óleo combustível são muito altos para que a idéia seja rentável em escala industrial”, assegurou Steinberg. Thomsen admite que a localização das estufas deve ser decidida em função da presença de luz solar. No norte da Alemanha, com poucas horas de sol por ano, o modelo não funcionaria. “As estufas teriam de ser instaladas no sul e sudeste da Europa”, disse o biólogo. “Já estamos negociando com firmas alemãs e estrangeiras, do Brasil e da Índia, que manejam grandes cultivos de algas”, acrescentou Thomsen.

sexta-feira, 16 de maio de 2008



A saga dos índios Manoki pela sua terra
(Vídeo de entrevista sobre documentário de Elton Rivas. Fonte: site
Em Cuiabá)
* Para assistir este vídeo no site do YouTube clique aqui


Em meados do século XX, cercados pelas frentes de expansão, por povos inimigos e atingidos por doenças, os Irantixe/Manoki se viram obrigados a partir de suas terras tradicionais. Desde então tentam voltar para casa.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Charge de Angeli, Folha de São Paulo


Decisão do Supremo sobre Raposa Serra do Sol será apenas em junho, diz Tarso
EDUARDO BRESCIANI Do G1, em Brasília

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou nesta quarta-feira (14) que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, acontecerá apenas no mês de junho. Ele disse ter recebido a informação do ministro Carlos Ayres Brito, que relata a ação no tribunal. “O ministro Ayres Brito me informou que não será nos próximos 15 dias porque, provavelmente só daqui a 20 dias sairá a decisão”, afirmou o ministro da Justiça. De acordo com Tarso, a decisão, prevista para a semana passada, foi adiada porque foram adicionados novos documentos ao processo e é necessário um parecer do Ministério Público sobre esses novos dados. O processo de demarcação da reserva teve início na década de 1970, mas a definição do território como reserva continua com a retirada dos não-indíos foi tomada em 2005 por meio de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, o Supremo manteve esse decreto, mas somente neste ano irá julgar a legalidade da demarcação das terras. A tendência é que sejam permitidas “ilhas” onde seria permitido a presença de não-índios na reserva. O Supremo já proibiu a retirada dos não-índios por meio de uma ação da Polícia Federal.

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Índios divergem sobre demarcação contínua de reserva em Roraima
(trechos desta matéria)

"Publiquem coisas verdadeiras, não coisas mentirosas, como hoje se ouve nos jornais, dizendo que povo está brigando entre povo indígena, isso não é bem verdade", disse Clodomir Malheiros, líder indígena.
CIR x Sodiur
O conselho indígena de Roraima (CIR), mais ligado à Igreja Católica, quer manter a demarcação de terras homologada pelo presidente Lula, em abril de 2005, de forma contínua. "É homologada, demarcada, registrada, juridicamente é estudo antropólogo, então foi feito, e por isso que nós estamos ali", disse Nelino Galé, tuxaua do baixo cotingo. Já os tuxauas da Sociedade dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiur) pensam diferente. Contam com apoio do governo do estado e de produtores rurais. Querem manter comerciantes e fazendeiros em áreas dentro da reserva. “Não defendo só sua classe não, eu vou defender aqui o preto, eu defendo aqui o índio, defendo aqui o branco. Então eu defendo a minha pátria brasileira”, disse o presidente do Sodiur, Silvio da Silva. Dezenove mil índios vivem em 17,4 mil km² no nordeste de Roraima. Uma área onze vezes maior que o município de São Paulo. São cinco etnias: ingarikós,makuxis, patamonas, taurepanges e wapixanas.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Correio da Ursa: Aldeia Cururu (MA) - Buraco provocado pelo corte e queimada de madeira na floresta da Terra Índígena Araribóia

domingo, 11 de maio de 2008

Crianças indígenas da nação yanomami (Fonte da imagem: Blog do Rogelio Casado)
Índias Pataxós por Úrsula Bahia (Fonte da imagem: CMI Brasil)

Um Feliz Dia das Mães florestal !!! :))

domingo, 4 de maio de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Índio kamaiurá


Infanticídio põe em xeque respeito à tradição indígena
(Fonte: Folha On line, 06/04/08)

Ana Paula Boni

Mayutá, índio de quase dois anos de idade, deveria estar morto por conta da tradição de sua etnia kamaiurá. Na lei de sua tribo, gêmeos devem ser mortos ao nascer porque são sinônimo de maldição. Paltu Kamaiurá, 37, enviou seu pai, pajé, às pressas para a casa da família de sua mulher, Yakuiap, ao saber que ela havia dado à luz a gêmeos. Mas um deles já tinha sido morto pela família da mãe.
Paltu enfrentou discriminação da tribo, para a qual a criança amaldiçoaria a aldeia. Relutou, porém, em sair do parque do Xingu (MT), onde vive sua etnia e outras 13, muitas das quais praticam o infanticídio.
No ano passado, ele soube do trabalho da ONG Atini, que combate a prática, por meio de sua irmã Kamiru, que desenterrou o menino Amalé, condenado a morrer por ser filho de mãe solteira. Kamiru teve contato com a entidade em Brasília, ao buscar tratamento médico para o filho adotivo.
Paltu pediu ajuda à ONG para conscientizar os índios de sua aldeia. A entidade foi criada há cerca de dois anos pelos lingüistas Márcia e Edson Suzuki, que em 2001 adotaram Hakani, 12. Devido à desnutrição em decorrência de hipotireoidismo congênito, que seus pais acreditavam ser uma maldição, Hakani, da etnia suruarrá, deveria morrer. Foi salva pelo irmão.
É Hakani que dá nome ao documentário dirigido pelo diretor e produtor norte-americano David L. Cunningham, que está em fase de finalização e deve ser lançado neste mês no Brasil e nos Estados Unidos. Rodado em fevereiro em Porto Velho (RO) com o apoio da Atini, o vídeo mostra a história de Hakani e depoimentos contra o infanticídio, na voz de índios.
Ainda praticado por cerca de 20 etnias entre as mais de 200 do país, esse princípio tribal leva à morte não apenas gêmeos, mas também filhos de mães solteiras, crianças com problema mental ou físico, ou doença não identificada pela tribo.
Projeto de lei
O documentário aborda projeto de lei que trata de "combate às práticas tradicionais que atentem contra a vida", que tramita na Câmara desde maio passado. A Lei Muwaji, como é chamada em homenagem à índia que enfrentou a tribo para salvar sua filha com paralisia cerebral --caso que inspirou a criação da Atini--, estabelece que "qualquer pessoa" que saiba de casos de uma criança em situação de risco e não informe às autoridades responderá por crime de omissão de socorro. A pena vai de um a seis meses de detenção ou multa.
A proposta é polêmica entre índios e não-índios. Há quem argumente que o infanticídio é parte da cultura indígena. Outros afirmam que o direito à vida, previsto no artigo 5º da Constituição, está acima de qualquer questão.
"Nós vivemos sob uma ordem legal e a lei diz que o direito à vida é mais importante que a cultura", afirma Maíra Barreto, doutoranda em direitos humanos pela Universidade de Salamanca (Espanha), cuja tese é sobre infanticídio indígena.
Para ela, conselheira da Atini, há incoerência no fato de o Brasil ser signatário de convenções internacionais que condenam tradições prejudiciais à saúde da criança e não cumpri-las no caso dos índios.
Em 2004, o governo brasileiro promulgou, por meio de decreto presidencial, a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que determina que os povos indígenas e tribais "deverão ter o direito de conservar seus costumes e instituições próprias, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais definidos pelo sistema jurídico nacional nem com os direitos humanos internacionalmente reconhecidos".
Antes disso, em 1990, o Brasil já havia promulgado a Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, que reconhece "que toda criança tem o direito inerente à vida" e que os signatários devem adotar "todas as medidas eficazes e adequadas" para abolir práticas prejudiciais à saúde da criança.
O antropólogo Ricardo Verdum, do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), acha o projeto de lei uma intromissão no livre-arbítrio dos índios. "Querer impor uma lei é agressivo, é uma violência."
O antropólogo Bruce Albert, da CCPY (Comissão Pró-Yanomami), diz que, para os yanomamis, "só as crianças às quais se podia dar a chance de crescer com saúde eram criadas".
O missionário Saulo Ferreira Feitosa, secretário-adjunto do Cimi (Comissão Indigenista Missionária), vê no debate conflito entre a ética universal e a moral de uma comunidade. "Ninguém é a favor do infanticídio. Agora, enquanto prática cultural e moralmente aceita, não pode ser combatida de maneira intervencionista."
Para Márcia Suzuki, presidente da Atini, o debate originado a partir do projeto traz à tona a questão da saúde pública desses povos.