TERRA SEM LEI
Seis meses depois de ambientalista ser morto, nada foi feito para melhorar a situação da reserva ecológica do Tinguá
Após crime, floresta do Rio segue esquecida
(Matéria da Folha de SP, Sergio Torres da Sucursal do Rio )
Dentro de uma jaula de bambu e arame, o agente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) Márcio Castro das Mercês inicia amanhã uma greve de fome em protesto contra o abandono da Reserva Biológica do Tinguá após o assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho.Coberta pela vegetação típica da mata atlântica e repleta de riachos e cachoeiras que descem uma serra que atinge 1.600 m de altitude, a reserva é a única área verde da Baixada Fluminense, região metropolitana do Estado do Rio. Passados seis meses do crime, não foi feito nada do que o governo federal anunciou para melhorar a fiscalização da reserva, manancial de 80% da água consumida pelos cerca de 5 milhões de habitantes da Baixada.Não houve contratação de pessoal. A precária infra-estrutura da reserva permanece a mesma. Os quatro carros estão quebrados. Os 14 agentes são insuficientes para patrulhar os 26 mil hectares da reserva, que abrange áreas nos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Paracambi, Petrópolis, Miguel Pereira e Paty do Alferes.Sem fiscalização, voltaram a Tinguá os caçadores clandestinos, que abastecem os restaurantes do Rio e da Baixada com carne de paca, capivara e cateto (porco do mato). Também retornaram os caçadores de pássaros silvestres, abundantes na área e de mercado lucrativo na Europa. As partes baixas da reserva têm sido invadidas por sítios e favelas.O crimeO policial militar Dionísio Júlio Ribeiro Filho foi assassinado na noite de 22 de fevereiro deste ano, quando caminhava em uma estrada deserta. Tinha 61 anos. Era dirigente da ONG Defesa da Natureza, que lutava pela preservação da reserva do Tinguá. Após o crime, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a direção do Ibama e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), anunciaram que Tinguá mereceria atenção especial das autoridades, com reforço de pessoal e combate aos invasores.Apesar das promessas, os ambientalistas da região continuaram ameaçados. Cinco dias após o assassinato, homens em um carro preto dispararam cinco tiros contra a casa do agente Márcio Castro das Mercês, mineiro radicado em Tinguá há 26 anos.O ambientalista disse ontem à Folha que decidiu fazer a greve de fome em protesto contra o esquecimento da reserva pelas autoridades após o crime. Reclama também que foi transferido à revelia para a unidade do Ibama na serra dos Órgãos, em Teresópolis.A jaula ficará em frente à antiga estação ferroviária de Tinguá, hoje subsede da reserva. O prédio, de 1917, está aos pedaços. A fiação exposta põe em risco a edificação, que tem cômodos interditados por risco de desabamento.Mercês, 52, disse que ambientalistas planejam trazer a jaula durante a semana para o centro do Rio, em frente à sede do Ibama."Só vou deixar a jaula e encerrar a greve de fome se houver um indicativo forte de que as reivindicações de reforço de pessoal e melhoria da infra-estrutura serão atendidas. Não posso mais viver de promessas", disse ele.Ontem, para ir à reserva, a caminhonete do Ibama teve que ser empurrada. "A reforma da subsede parou porque não temos dinheiro para comprar uma lata de tinta. Não há vaso sanitário no banheiro. O visitante tem que ir ao botequim mais próximo", disse.Ambientalistas propuseram anteontem ao Ministério Público Federal e ao Estadual a abertura de ações civis contra a ministra Marina Silva e o Ibama.
sexta-feira, 19 de agosto de 2005
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2 comentários:
Estamos solidários.
Não podemos fazer nada?
Nem mandar uns e-mail escrachando uns e outros.
Inclusive D. Marina?
Abraços
Fred
Fred, vou ver se o pessoal do site do Greenpeace está enviando algum abaixo-assinado relacionado a isso. Geralmente, eles fazem isso.
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