Cerâmica indígena em forma de tartarugaSobre culinária indígena
(Fonte das informações: Iandé - Boletim de Histórias 8)
O escritor paraense  Abguar Bastos realizou uma extensa pesquisa sobre a preferência alimentar de  vários grupos indígenas. Para descrever o resultado de seus estudos ele usou o  termo "pantofagia", ou seja, o ato de comer de tudo.
Ele propôs uma divisão  dos alimentos consumidos pelos índios em certas categorias: de resguardo,  interditos, compensatórios, privativos e sagrados.
Os alimentos de  resguardo são aqueles incentivados ou proibidos de serem consumidos durante um  período ligado a um rito de passagem. Os alimentos probidos, se forem absorvidos  durante esse período, podem trazer consequências graves, tanto para a pessoa que  os comeu quanto para seus parentes próximos. Entre os índios Bororo, do Mato  Grosso, as mães que davam à luz não comiam carne de tatu nem de tartaruga, senão  seus bebês podiam ficar raquíticos. Entre os Urubu-Kaapor, do Maranhão, as  meninas que estão prestes a menstruar pela primeira vez tomam uma sopa de aipim  - "para esquentar a vagina" - e apenas podem comer tartaruga-branca, os peixes  mandi e aracu, e chibé (farinha seca diluída na água).
Os alimentos interditos  são aqueles proibidos a toda a comunidade indígena, como fêmeas grávidas ou  animais considerados mágicos. Os Kaingang, do sul do Brasil, e os Rikbaktsa, do  norte do Mato Grosso, não comem tamanduás. Os Kaingang dizem que são gratos ao  tamanduá, que ensinou alguns cantos e danças para os índios. Entre outros  exemplos: os índios Xikrin (do Pará) não comem o peixe jaú, os Karajá (do  Tocantins) não comem tatu, os Tapirapé (do Mato Grosso) não comem preguiça... É  comum que os índios comam a carne de macacos, mas há sempre alguma espécie que  não é consumida. Geralmente o motivo é - segundo as lendas - que aquela espécie  já foi um humano que se transformou em tempos passados.
Alimentos  recompensatórios são geralmente reservados aos homens que realizam alguma  atividade muito trabalhosa. Era habitual entre os índios Bakairi, do Mato  Grosso, que os homens ganhassem alimentos de todos da aldeia, antes de partirem  para a caça. Entre os índios Krahò, do Tocantins, persiste um costume realizado  de tempos em tempos, que fortalece a amizade entre as famílias: todos os homens  saem para a mata em busca de um alimento. Quando voltam à aldeia, oferecem esse  alimento a uma mulher que não seja sua própria esposa, que retribui a gentileza  com uma comida preparada por ela própria. Uma espécie de troca de  presentes.
Os alimentos privativos  são aqueles reservados a certos indivíduos ou grupos. Entre os índios Suyá, do  Mato Grosso, apenas os homens podem comer os miúdos da anta. Também só os  homens, entre os Rikbaktsa, comem a cabeça de macacos e  porcos-do-mato.
Por fim, o escritor  Abguar Bastos chama alguns alimentos de "sagrados". Ele reúne nessa categoria os  alimentos que sofrem uma influência espiritual, antes de serem consumidos. Por  exemplo: os pajés dos índios Marubo, do sudoeste do Amazonas, usam o canto para  curar as doenças. Há casos em que esses pajés cantam sobre um pote de mingau,  que depois é oferecido ao índio doente. Isso ocorre também entre os índios  Baniwa, do norte do Amazonas. Durante a festa Kariana, um rito de  passagem feminino, os pajés benzem e jogam fumaça sobre a comida que será  consumida pelas meninas; normalmente beiju com molho de pimenta, peixe cozido e  uma cabeça de peixe. Entre os índios Wanana, do alto Rio Negro - noroeste  amazônico, os pajés benzem também o leite materno que é oferecido às crianças  durante a cerimônia de batismo.














