sábado, 3 de setembro de 2005

ORIGEM DAS ESTRELAS [1]
(texto extraido do site Jangada Brasil )
Antigamente as mulheres foram em busca de milho, mas acharam pouquíssimo, somente algumas espigas cada uma. Levaram depois um menino e desta vez foram mais afortunadas, porque acharam uma grande quantidade de milho e no mesmo lugar o socaram para fazer pão e bolo para os homens que tinham ido à caça. O menino conseguiu subtrair grande quantidade de milho em grão e, para esconder o furto às mulheres, encheu umas taquaras que preparou de propósito em grande quantidade. Voltou à sua cabana; tirou o milho e o entregou à avó, dizendo: Nossas mães lá no bosque fazem pão de milho: faze um para mim, porque quero comê-lo com meus amigos. A avó o satisfez. Quando o pão estava pronto, ele e seus amigos comeram; depois cortaram os braços e a língua da avó, para que não manifestasse o furto cometido e não se opusesse a quanto tinha determinado fazer. Para o mesmo fim, cortaram a língua de um belo papagaio doméstico, e puseram em liberdade todos os pássaros criados na aldeia. Tinham resolvido fugir para o céu, temendo a ira de seus pais e mães. Dirigiram-se para a floresta, chamaram o piodduddu, "colibri"; e colocaram-lhe no bico a ponta de uma compridíssima corda, dizendo-lhe: - Pega, voa e amarra a ponta sobre este cipó e a outra extremidade que amarraremos na perna, prenderás lá em cima, no céu. Procura prendê-la solidamente numa árvore grossa de lá. O colibri fez como lhe foi dito. Então os meninos, um depois do outro, foram subindo, primeiro pelo cipó, servindo-se dos nós que ele naturalmente possui, como de escada; depois se penduraram na corda, que o pássaro tinha colocado na extremidade do cipó. Então as mães voltaram e, não achando os filhos, perguntaram à velha e ao papagaio: - Onde estão os nossos filhos! – Onde estão nossos filhos? Mas nem a velha, nem o papagaio deram-lhes respostas. Uma delas saindo ao aberto, viu uma corda que chegava até as nuvens, e agarrada na mesma uma longa fila de meninos, que escalava o céu. Ela avisou as outras mulheres e todas correram para a mata e começaram a chamar os meninos afetuosamente, para que descessem, mas eles não lhes deram ouvido e continuaram a subir. Então as mães começaram a chorar e a esconjurar que descessem e voltassem a habitar com elas. Mas os meninos não só se fizeram de surdos aos pedidos de suas mães, mas até se apressaram em subir. Então aquelas mulheres, vendo que inúteis eram seus rogos, começaram também a subir pelo cipó e, terminada tal ascensão, treparam pela corda, com o fim de alcançar seus filhos. O menino que tinha roubado o milho se colocou último da fila, e foi, portanto, o último a chegar ao céu; quando chegou, viu que na corda, uma depois da outra, estavam agarradas todas as mulheres; então cortou a corda, e todas aquelas mulheres caíram desajeitadamente em terra, onde se mudaram em animais e feras. Esses meninos desnaturados, como castigo da sua monstruosa maldade e ingratidão, foram condenados a olhar todas as noites fixamente a terra, para ver o que aconteceu às suas mães. Seus olhos são as estrelas.
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[1] Lenda publicada pelos Padres A Colbacchini e C. Albisetti em Os bororós orientais (Companhia Editora Nacional, Coleção Brasiliana, São Paulo, 1942, p.218-219) (Em Costa e Silva, Alberto (org.). Lendas do índio brasileiro.)

6 comentários:

Fred disse...

São sempre imaginosas as lendas.
Algumas meio tenebrosas como estas.
Mas relatam ou explicam de uma forma muito forte.

Abraços e bom fim de semana.

Fred

Anônimo disse...

Olá querida,
passei pra te deixar um beijão de fim de semana.
E fiquei meio assustadona com essa estoria ai......

Anônimo disse...

Linda lenda
Bom Domingo.
Beijos.

Anônimo disse...

Errei a assinatura, ando distraída que só!...

Angela Ursa disse...

Amigos fred e Beth, algumas lendas indígenas são mesmo assustadoras. Mas é a forma deles lidarem com os medos da sua cultura. Beijos!

nanbiquara, um ótimo domingo para você também :))

Anônimo disse...

Aiai, essa eu não gostei. Não quero nem pensar em olhar para as estrelas e imaginar esses pestinhas.
Beijo.