domingo, 2 de outubro de 2005


Origem da festa do mel (Fonte)
Nas pp. 148-9 de seu livro Os Índios Tenetehara, Charles Wagley e Eduardo Galvão apresentam um mito com que os guajajaras explicam como começou a sua festa do mel. Os guajajaras são o ramo dos teneteharas que vivem no Maranhão; o outro ramo, os tembés, vivem no Pará.
Um homem chamado Aruwê construiu um esconderijo no alto de uma árvore para matar araras. Matou muitas delas. Quando se preparava para descer, percebeu que as onças se aproximavam da árvore para colher mel das muitas colmeias que aí existiam. Ele se escondeu e só foi embora depois que elas já se haviam retirado. No dia seguinte ele foi à árvore e aconteceu a mesma coisa.
O irmão de Aruwê, entusiasmado com o sucesso dele, pediu que lhe emprestasse o esconderijo na árvore, pois ele queria conseguir penas para fazer um ornato de cabeça. Aruwê aquiesceu, mas recomendou-lhe que somente se retirasse depois de as onças terem deixado a árvore. O irmão, porém, depois de matar araras, decidiu enfrentar as onças que chegavam. Disparou várias flechas sem conseguir atingir nenhuma delas. Uma onça, porém, subiu na árvore e matou o rapaz.
Aruwê, depois de esperar algum tempo, foi à procura do irmão, e junto à árvore achou sangue e vestígios de luta. Seguiu os rastros e viu que desapareciam junto a um formigueiro. Aruwê, que era pajé, retornou à maloca, preparou um cigarrão de tabaco e tauari, e, voltando à abertura do formigueiro, transformou-se em formiga e penetrou no buraco. Chegou assim a uma grande aldeia, habitada pelas onças. Encontrou uma mulher, que o convidou a morar com ela. Os parentes dela gostaram muito de Aruwê. Fora o pai dela que matara o irmão dele.
Aruwê observou que diariamente as onças deixavam a aldeia para voltarem de tarde com cabaças cheias de mel que penduravam nos esteios de uma casa. De noite entoavam cânticos muito bonitos junto à mesma casa. Depois de estocarem uma boa quantidade de mel, reuniram-se para fazer a Festa do Mel. A festa durou dias seguidos, do amanhecer ao pôr-do-sol; as onças cantavam e dançavam e bebiam o mel misturado com água. Só terminou quando o mel acabou. Aruwê aprendeu todo o cerimonial e os cânticos.
Com saudades de sua mulher e de seu filho, Aruwê pediu às onças consentimento para partir. Sua mulher-onça o acompanhou até à aldeia guajajara e ficou esperando por ele nas vizinhanças, enquanto ele a visitava. Sua esposa guajajara o recebeu com muita alegria e foi preparar um mingau de mandiocaba. Como demorou demais, quando Aruwê foi procurar pela mulher- onça, ela já havia partido e ainda tinha tido o cuidado de tapar a abertura do formigueiro, para que ele não mais a encontrasse.
Então Aruwê voltou a viver na aldeia com seus companheiros humanos e lhes ensinou a festa a que tinha assistido na aldeia das onças.

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