segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Desvarios da Ursa na antiga floresta
(texto escrito em 10/02/2003)

Somos multiclones
Depois de tantos anos, hoje, ao ver meu rosto no espelho, percebi que eu era um clone. Um multiclone, como um mosaico ou um quebra-cabeças, feito de pedacinhos de genes misturados e encaixados aleatoriamente. Eis o que sou: a parte de trás da cabeça de meu pai, o rosto redondo e os olhos de minha mãe, a altura de um tio alemão que não conheci, os dentes de minha avó, e pedaços do corpo ainda sem registro... Fora as partes que vieram de meus ancestrais bem distantes. Esse gosto que tenho por coisas orientais, deve ter vindo da China de 2000 anos atrás, ou do Japão da época dos samurais. Quantos ais ! Quando giro a katana no ar, meus pés dançam o xaxado ao som de Luiz Gonzaga. O meu pedaço alemão gosta de salsichão, mostarda bem picante, e depois deita na rede tomando água de coco e pensando num acarajé. Filha de Iemanjá e de Ogum, faço oferendas na praia e acendo incensos para Buda. Brasileira, nordestina, carioca, alemã, italiana, francesa, chinesa, japonesa... No meu coração, Piaf canta ao som de Chopin em duelo com Mozart, enquanto as bombas caem sobre a Polônia... O mundo está costurado em mim. Posso ver os continentes, os países, as cidades, o cheiro de mar, a muralha da China, a seca rachando a terra enquanto bebo suco de caju. E, ainda, renasceu uma parte índia, que devia estar escondida na ponta extrema do meu DNA. Neste instante, posso ouvir claramente o som dos pássaros, o barulho do Rio Negro, e sentir o gosto da mandioca assada na fogueira enquanto ouço Garota de Ipanema e choro por causa do Assum Preto...ooo... Puf ! Puf !... (Angela /Ursa Sentada e outras mais )

6 comentários:

Anônimo disse...

Ô D. Ursa....
Lindo isso viu....
Rsss...
Bjs.....

Lia Noronha disse...

Ursa: esse texto fala muito da nossa essência...e das buscas constantes que fazemos pra resgatarmos valores perdidos.
Simplesmente adorei!
Abraços de encostar costelas!

Anônimo disse...

Bonito, Angela, gostei.
Beijos, :).

Jôka P. disse...

O meu pedaço alemão também gosta de salsichão.
:)

Angela Ursa disse...

Diana, Lia e nanbiquara, fico feliz de vocês terem gostado do desvario da ursa. Encontrei por acaso esse texto na floresta antiga e nem me lembrava dele. Mas ele tem um significado, para mim, de união entre os povos, com suas culturas, que todas nós trazemos dentro de nós, herdadas dos ancestrais. Beijos da Ursa

Angela Ursa disse...

Jôka, que coincidência! Eu estava respondendo aos comentários na mesma hora em que você escreveu o seu. Que sintonia da nossa parte alemã! Vamos comer salsichão com salada de batata? ;)) Beijos!!