segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Ecologia alternativa: aprendendo com os índios Tupi Guarani
(trecho de artigo de Victor Fucks - Fonte )

A seguir, tentarei abordar uma alternativa não tão utópica, pois vem sendo utilizada, com relativo sucesso e há séculos por comunidades indígenas amazônicas e, em particular, entre os Índios Tupi Guarani (Fuks 1989, Hill 1984, Kracke 1981 ). Este modelo de interação social e ecológico, longe de ser simplista, envolve interações diversas, em níveis diferentes e, ao mesmo tempo, preserva a individualidade de cada membro da sociedade. Nele a importância de bens materiais se torna irrelevante e secundária às artes e às emoções. Com isso, deixa de existir a noção ocidental de acúmulo de bens ou capital, que por sua vez, gera um ciclo hierárquico, com diversas relações desiguais. Evidências etnográficas ajudam a identificar este sistema entre as tribos Waiapi. Para os indivíduos dessa sociedade não há importância material e acúmulo de bens. A irrelevância da noção de acúmulo de bens pode ser evidenciada pelo fato dos Waiapi contarem apenas até 4. Tudo além de 4 cai na categoria genérica e distante chamada "iro ironte" que seria traduzível por nossa noção de "muitos".
Através dos meios de expressão artística, cada indivíduo aprende a conviver harmonicamente em grupo e com a natureza, mas mantendo sua individualidade a níveis dificilmente alcançáveis, no ocidente. Nestes contextos artísticos e de caráter festivo, cada indivíduo pode encontrar-se em situações nas quais cada um se relaciona entre si e com outras espécies de animais, insetos e peixes (Fuks 1989). Ao invés de perpetuar a visão ocidental de "dominação da natureza e desafios ao Cosmos," que por si só reflete a dominação da humanidade pela humanidade, o modelo Tupi-Guarani procura incorporar diversos conhecimentos sociais e naturais, de forma interativa. Neste, todos os indivíduos se relacionam entre si e com outras espécies. É importante frizar que estas relações mantêm um equilíbrio dinâmico no qual todos estão no mesmo plano, tanto no meio social quanto entre os Waiapi e outras espécies. Em diversos contextos, percebe-se a visão cíclica de complementariedade biológica, onde certas espécies protegem outras e geram produtos necessários para a sobrevivênica humana e de outras espécies. No ecossistema da aldeia onde se relacionam diversos indivíduos, de idéias, sexos e idades diferentes, existe também uma certa harmonia com o solo que lhes proporciona os alimentos e outros bens, com os rios e florestas, e com as diversas espécies que neles habitam.

2 comentários:

Fred disse...

Gostei demais da borboleta e da arara livres pela floresta.
Quando evoluiremos para chegar a um tipo de sociedade, pelo menos parecido com esta?
Abraços
fred

Anônimo disse...

Amigo Fred, obrigada pela borboleta que você deu de presente para a Ursa! A arara resolveu passear junto com ela :)) A floresta agora está mais animada!
Abraços florestais!