terça-feira, 27 de setembro de 2005



Livro: Vocabulário Nheengatu, de Afonso A. de Freitas

Nheengatu foi língua mais usada no país até o século 18, mistura de tupi e português era falada por religiosos, escravos e bandeirantes
(Fonte: jornal O Estado de São Paulo - MARCOS DE MOURA E SOUZA)

O nheengatu - uma das três novas línguas que agora são oficiais em São Gabriel da Cachoeira - entrou para a história do Brasil com outro nome: tupi. Falado por índios de diferentes tribos em quase toda a costa brasileira na época do Descobrimento, o tupi transformou-se e simplificou-se ao longo dos séculos, ganhando arremates de português até chegar ao estágio atual - sob o nome de nheengatu ou tupi moderno. Hoje, é falado apenas por ribeirinhos, índios e caboclos da Amazônia. A evolução e a importância da velha língua brasílica - como era chamado o tupi por portugueses nos dois primeiros séculos - não são muito exploradas pela maioria dos livros de história. Mas seu uso ajudou a dar uma cara ao Brasil. "Os portugueses, os escravos, os religiosos, os bandeirantes foram aprendendo a falar a língua geral, uma simplificação do tupi com algumas influências do português, e até o século 18 essa foi a língua mais falada nas cidades da costa brasileira, mais até do que o português", diz o professor do Curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo de Almeida Navarro, um especialista em tupi e autor do Método Moderno de Tupi Antigo (Vozes). Sobre o uso da língua, o padre Lemos Barbosa - autor de obras referenciais sobre tupi nos anos 50 - dizia o seguinte: "Falada na catequese e nas bandeiras, instrumento das conquistas espirituais e territoriais da nossa história, o seu conhecimento, sequer superficial, fez parte da cultura nacional." Em tupi, Anchieta escreveu peças de teatro, poesias líricas, catecismo. Redigiu, em 1595, a primeira gramática do tupi, a Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil. O tupi (às vezes chamado erroneamente de tupi-guarani, que é a denominação de uma família de línguas) deu nomes a cidades, rios, serras. Depois do latim e do grego, nenhuma língua foi tão usada na classificação científica de plantas e animais. Nomes como Sergipe, Guaratinguetá, pipoca, paçoca, pirão, peroba, tatu, sabiá, urubu ou expressões como chorar as pitangas e toró (chuvarada) vêm do tupi. Sua difusão, porém, foi barrada no século 18 por decisão do governo. "Em 1758, o Marquês de Pombal começou a proibir o ensino da língua geral em toda a colônia com o objetivo de impor o português como forma de demonstração de poder", conta Navarro. Amplamente falado, o idioma era também ensinado nos seminários dos jesuítas. Em 1759, seguindo a estratégia de destituir os jesuítas do poder que haviam conquistado, Pombal expulsa os religiosos do País. No mesmo ano, numa tentativa de remover as marcas deixadas pelo tupi no mapa, ordena a renomeação de várias cidades do norte brasileiro, que deixaram seus nomes em tupi e ganharam outros, portugueses. Surgiam então na Amazônia Santarém, Alenquer, Óbidos. Longe dos ouvidos do Estado, o tupi, ou a língua geral, sobreviveu bem na floresta até 1877. Neste ano, explica o professor da USP, uma grande seca no Nordeste levou 500 mil pessoas para a Amazônia, mudando o perfil lingüístico da região. Mas a terceira fase do tupi continua viva por ali e agora com status de idioma oficial - uma decisão que agradou Navarro. "É uma forma simbólica de reagir a uma proibição do Estado de 250 atrás."

5 comentários:

Jôka P. disse...

Sou o homem branco amigo da Floresta 1.943 !!!
ÊÊÊÊÊHHHHHH !!!!!
Bjs,
JÔKA P.

Lia Noronha disse...

Ursa: eu fiquei fascinada por esse livro!
O Universo Indígena é apaixonante.
Vou te mandar umas fotos das tribos daqui do Espírito Santo.Da reserva indígena de Aracruz.Tenho uma amiga fotógrafa que fez um trabalho excelente com eles!
Beijos carinhosos.

Anônimo disse...

Bom dia.....

Que linda a lenda....
Eles falem de vida de uma forma......do amor...
Ah.......xo que to apaixonada....
Rssss...
Bjs....

Angela Ursa disse...

Salve, meu amigo visitante 1.943, cabelos dourados. Sua presença na floresta é uma alegria! Beijos da Ursa!

Lia, muito obrigada pela oferta das fotos! Eu gostaria muito de ver, sim. E se sua amiga permitir, postar até aqui na floresta. Beijos!

Diana, que bom saber que você está apaixonada! Viva o amor! Beijos florestais da Ursa :))

Anônimo disse...

Nheengatu ou Tupi Amazônico, é um misto de Tupi, Guarani e Português. Daí ser também chamado de Língua Geral. Deveria ser Língua Oficial do Brasil junto à Língua Portuguesa.