sábado, 17 de setembro de 2005

O gravador que era arco e flecha (Fonte: Jornal da USP)
Mário Juruna, primeiro e único índio a se eleger deputado federal, abriu caminho para a atuação política de muitos outros indígenas (Maria Eugênia de Menezes)

Mário Dzururá, ou Juruna como era conhecido, foi o primeiro e único índio brasileiro a se tornar deputado federal. Eleito pelo PDT do Rio de Janeiro em 1982, cria política de Leonel Brizola e do antropólogo Darcy Ribeiro, que na época militava nas fileiras do partido, Juruna foi o maior representante indígena nas esferas do poder federal. Vítima de diabete crônica, o ex-cacique xavante morreu no dia 17/07/2002, depois de passar 15 dias internado no hospital Santa Lúcia em Brasília. A doença já o debilitava há muito. Preso a uma cadeira de rodas, Juruna andava esquecido pelos políticos e pelos índios, mas sua atuação foi um marco histórico. “A presença de um índio no Congresso foi importante para defender os interesses indígenas e para barrar projetos que os prejudicassem”, explica a antropóloga Fany Ricardo, coordenadora do ISA(Instituto Socioambiental)
Líder dos xavantes, Juruna saiu da sua tribo, na reserva de São Marcos no Mato Grosso, e foi para Brasília tentar ser ouvido pelo presidente. Depois de enganado muitas vezes, Juruna decidiu usar o gravador que tinha comprado em Cuiabá para registrar as “mentiras” que lhe diziam e as promessas falsas que lhe eram feitas. A demarcação das terras indígenas sempre esteve no centro de suas preocupações, talvez pela própria história que viveu com sua tribo. Os xavantes viviam na cabeceira do rio Xingu e depois de uma série de conflitos com posseiros foram empurrados para o rio Araguaia até chegarem ao Mato Grosso, onde ocuparam as margens do rio da Morte. Juruna ainda era um menino pequeno mas se lembrava das mortes e das doenças. “Sempre fugindo. Abandonamos roça, nossa maloca, nosso rio, tudo que xavante tinha.” Irritado com a omissão da Funai e o alheamento das autoridades públicas em relação ao problema da terra indígena, ele peregrinou durante dias pelos corredores do Ministério do Interior tentando falar com o então presidente Ernesto Geisel. Vítima da burocracia, resolveu se vingar. Sua arma no mundo dos brancos foi o gravador. Ele começou a cobrar coerência entre as promessas e as ações das autoridades brasileiras e se tornaria famoso por isso. “Eu comprei gravador porque branco faz muita promessa. Depois esquece tudo”, disse em entrevista ao Pasquim. Em 1980, enfrentou a proibição do governo, que o impedia, pelo fato de ser índio, de viajar ao exterior. Junto com Darcy Ribeiro, Juruna foi convidado pelo Tribunal Bertrand Russel para ir a Holanda servir de jurado no julgamento dos crimes contra as raças indígenas do mundo inteiro. A Funai quis impedir sua ida, a disputa foi parar na justiça e a luta de Juruna para ir até a Holanda ganhou as páginas dos jornais do País. Começava-se a questionar a tutela da Funai sobre os índios. Hoje, um projeto de lei que põe fim à tutela está em tramitação no Congresso. De acordo com Fany, “o projeto traria ganhos para os indígenas, mas ainda deve demorar para ser aprovado porque enfrenta resistência de vários setores, principalmente da própria Funai”.

4 comentários:

Anônimo disse...

Vc sabe que não agüento essa coisa de índio se contaminando com o homem branco, né? Com essas não dá nem pra gente se refugiar na floresta. :D
Beijo.

Angela Ursa disse...

Amiga palpiteira, mas é importante que os índios também tenham um espaço de luta político para poder reivindicar e aprovar leis que defendam os seus interesses. O Juruna teve um papel muito importante, apesar de todas as dificuldades e discriminação que sofreu.
Não vai deixar de visitar a floresta por causa disso, viu? :))
Beijos da Ursa

Jôka P. disse...

Ninguém deixa a Floresta da Ursa.
Nós todos amamos isso aqui.
É um espaço de liberdade.
Eu na época achava graça no Juruna com aquele gravados, circulando até pelo Barra Shopping.
Virou até personagem de Agildo Ribeiro.
Os ideais desse índio me pareciam ingênuos, e se diluiram nas piadas de televisão.
Nunca foi levado à sério.
Hoje sinto um pouco de peninha dele...
Peninha ?!
:(
Bjs,
JÔKA P.

Angela Ursa disse...

Amigo Jôka, pelo menos aqui a gente tenta ter liberdade. A floresta virtual não tem fronteiras, nem cercas. Ela é aberta para todos os amigos que amam a natureza.
Infelizmente, pelo fato de ser índio, o Juruna não foi levado a sério como devia. Beijos!