terça-feira, 28 de março de 2006

Índio Pareci no arremesso do jogo Kolidyhô (Fonte: Estadão)
Kolidyhô - Os índios arremessam varas ou bastões de madeira na tentativa de conseguir uma aproximação entre elas de, no máximo, um palmo. Jogo semelhante à bocha.
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Depoimento de Daniel Matenho Cabixi, do povo Pareci, aldeia de Rio Verde no Mato Grosso
(texto preparado em 1993 - fonte: site Iandé - Arte com História)


Vi muitas pessoas postarem-se diante de mim, um índio, e ficar horas e horas a olhar-me. Além de lançarem uma série de perguntas, entre elas, se não existe mais índio brabo. Penso comigo: que estarão elas pensando ? Esforço-me para penetrar em seus pensamentos. Afinal, um descendente de índios selvagens, descendentes de seres mitológicos índios, está postado diante deles, de calça, camisa e sapatos. Neste momento, a imaginação desse povo simples voa pelo mundo da fantasia. Como será que vivem ? O que comem ? Será que ele pensa igual a nós ? Será que descende de comedores de gente ? Terá ele provado alguma carne humana? Tem ele algum sentimento humano de amor e compaixão ?
Enfim, percebo que as interpretações e comparações que nos fazem não passam da categoria de animais exóticos que habitam a natureza. Tenho vontade de fazê-los compreender o meu mundo, assim como cheguei a compreender o mundo deles.
Gostaria de dizer-lhes que faço parte de uma sociedade que possui normas de vivência harmônica entre homens e natureza. Gostaria de dizer-lhes que possuimos nossos valores sociais, políticos, econômicos, culturais e religiosos, que adquirimos através dos tempos, de geração em geração.
Gostaria de dizer-lhes que formamos um mundo equilibrado e justo de relações humanas. Dizer que como humanos somos sujeitos a falhas e erros. Dizer que nossos sentimentos mais íntimos são exteriorizados através da arte, da língua, da nossa religião, das festas acompanhadas de ritos e cerimônias. Dizer que conseguimos nossas experiências diante da vida e do universo.
Dizer que conseguimos chegar num equilibrado mundo prenhe de valores que transmitimos a nossos filhos, o que em outras palavras mais compreensíveis, é sinônimo de educação.
Gostaria de dizer-lhes também que tudo, tudo isso que vem sendo deturpado, desrespeitado e destruído. Dizer que estamos despertando para uma nova realidade. Estamos percebendo que todas as tentativas estão sendo feitas para acabar com nossos princípios já constituídos. Dizer que um de nossos objetivos fundamentais é levar a nossa comunidade o conhecimento desta realidade nova que nos rodeia. Do interesse em perpetuar nossos valores morais e culturais.
Dizer que estamos prontos para receber o que de útil a sociedade deles nos oferecer e rechaçar o que de ruim ela nos apresentar. Mas a cegueira etnocêntrica não permite este diálogo franco e sincero.

2 comentários:

Jôka P. disse...

Que linda essa máscara indígena aqui abaixo !
Tava com saudades de vir aqui !
Bjs!
JÔKA P.
:D

Angela Ursa disse...

Querido Jôka, a Ursa fica muito feliz de receber você na Floresta. Venha tomar um chá com bolinhos! Beijos carinhosos :))