terça-feira, 4 de julho de 2006

A índia Kadiwéu Ramona Soares desenhando com jenipapo, na cidade de Bodoquena-MS. Foto: Guto Pascoal - Fonte da imagem: site Com Ciência )

Lenda Kadiwéu

Criação e erro
(Fonte: site Jangada Brasil)
(Lenda narrada em kadiwéu por Alfredo Chuvarada e traduzida por Ambrósio da Silva.)

Quando Deus começou a criar o mundo, principiou pelas árvores. Ele plantou, de início, o tarumã, a paineira, a aroeira, a peroba e outras árvores.
Findo o momento da primeira criação, Deus imaginou que estas árvores não servissem para serem transformadas em pessoas, pois não se moviam, fixas ficavam no espaço. Então, o Criador desistiu de sua intenção, embora as árvores possuíssem feição e cabelos humanos.
Destruiu-se, assim, a primeira geração, restando, como herança, o capim, cabelos das árvores.
Passaram a ser criadas as aves.
Foram chamados o joão-grande, o corvo, o gavião penacho, a ema e outras aves. Cada ave foi observada, para verificar sua ambientação na terra. As aves não possuíam penas, somente pele. Elas conversavam entre si, num igual idioma.
Certo dia, o caranchó perguntou ao Criador:
- Como pode um pássaro de três dedos se transformar em ser humano? Isto é muito interessante!
- Tudo tem o seu tempo, respondeu o Senhor.
A nossa história diz que Deus mandou uma grande chuva e quando as águas cessaram, as aves da primeira geração haviam desaparecido, restando unicamente as da segunda geração.
Fez então Deus uma plantação de mandioca, melancia e outras espécies.
Todavia, apareceram os ladrões agindo à noite - naquele tempo já havia erro - sem serem capturados. Resolveu Deus colocar um guarda. A escolha recaiu sobre a coruja. Ela cantou a noite toda, mas, de madrugada, adormeceu, e a plantação novamente foi saqueada.
No dia seguinte, o carão foi vigiar a roça, cantando noite afora. Nesse entretempo, Deus ordenou à avestruz que coletasse caramujos para o carão saborear, após o turno de ronda. Enchesse um baquité para presentear o vigilante>
Ao clarear o dia, os ladrões apareceram, e o carão principiou a gritar. Apareceu o Criador e o carão o informou onde se encontravam os ladrões. Estavam eles escondidos em um enorme buraco.
Deus imaginou um meio de desalojá-los. O carão foi puxando cada ser, e Deus nomeava-os a cada um, dando-lhes uma tribo, um nome, uma linguagem e uma missão.
Ao final da obra, o carão perguntou se não faltava mas uma tribo. Veio-lhe a resposta:
- Que tribo falta ainda?
- A tribo kadiwéu!
Foram tirados, então, um homem e uma mulher que ainda estavam no fundo do buraco.
Disse Deus ao casal:
- Por serem os últimos da fila, vocês formarão os kadiwéus; não sendo, portanto, numerosos como tribo. Por isso até hoje os kadiwéus são em restrito número.
Novamente o carão indagou:
- Não falta mais nada? E os chamucocos?
- Como fazer, se não existe ninguém mais no buraco?
- Então, o Criador quebrou um galho de paratudo seco, passou-o nas nádegas e o jogou ao mato, para que se transformasse em gente.
- Como vocês são os derradeiros, serão escravos! disse o Senhor.
Aqui nossa história termina.



7 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Sutil beleza da natureza! ;)

Tom disse...

Que história mais linda sobre a criação do mundo!
Quem dera os homens fossem os mesmos daquela época...

Beijos florestais para você!

Tom

Anônimo disse...

Boa tarde.......

Penas as coisas terem mudado....
Bjs....

Anônimo disse...

anonima sou eu.....
Rss....
Dando crepe D. Ursa...
Rsss...
Bjs....

Janaina disse...

Bonito. Mas triste.
Ou eu que to vendo tudo triste?
Beijos, Angela linda.

Anônimo disse...

Tantas coisas mudam e nem sempre pra melhor...
Adoro essa pintura na pele,linda!
Feliz semana Angela querida,
beijossssssssssss

Angela Ursa disse...

Queridos amigos, que bom que gostaram da lenda. Beijos carinhosos da Ursa! :))