sábado, 23 de setembro de 2006



O que FURNAS não revela sobre a construção das usinas (Fonte: site da campanha Rio Madeira VIVO )

Por Luciana Oliveira

O Ibama aprovou o estudo de impacto ambiental no rio Madeira feito para garantir a viabilidade da construção de duas usinas hidrelétricas. Daí para o início das obras é só uma questão de tempo. O próximo passo é a realização de audiências públicas para que a população conheça os detalhes desse estudo que até então foram superficialmente comentados. Já participei de várias palestras e audiências sobre esse mega empreendimento e nunca consegui arrancar dos técnicos de Furnas informações concretas sobre a proporção do impacto ambiental. Tive a oportunidade de consultar em primeira mão quando trabalhava na prefeitura de Porto Velho o compacto dos relatórios.
Finalmente pude tirar algumas dúvidas e confesso que fiquei escandalizada e triste. Não só pelos impactos ambientais apontados, mas principalmente pela inconsistência das medidas mitigadoras, ou seja, pelas alternativas apontadas por Furnas para amenizar os prejuízos.
Um quadro do relatório mostrava lado a lado quais seriam os impactos e o que Furnas propunha para compensar ou corrigir os estragos. Uma seqüência de perguntas e respostas esclarecia como a construção das usinas vai afetar o patrimônio histórico, o aspecto geográfico, a fauna e flora e a vida das pessoas. A casa dos ingleses (construída pelos americanos) símbolo da nossa lendária ferrovia Madeira Mamoré será atingida pela construção, mas Furnas garante que vai erguer outra igual em local próximo. A praia de Jacy-Paraná vai desaparecer? Sim, será inundada pelas águas, mas outra artificial será construída em local indicado pela população, li no estudo. E a cachoeira do Teotônio, aquele paraíso ecológico? Também será inundada. Em outras questões pontuadas consta que não há medidas mitigadoras previstas, mas apenas a intenção de futuramente corrigir o dano causado. Os sítios arqueológicos presentes no local onde serão construídas as usinas de Jirau e Santo Antônio, mais de 20 em cada, vão simplesmente ser apagados da história.
Esses são alguns exemplos do pouco que pude folhear no relatório, mas o suficiente para me fazer questionar se essa obra que até então só mostraram dados fantasiosos deve ser tocada da forma como é proposta. Milhares de empregos e royalties são prometidos tal como em Coari, cidade do Amazonas de onde sai o gás e óleo extraídos das reservas de Urucu, base da Petrobras. Quando estive lá, fiz questão de ampliar a matéria encomendada pela empresa ouvindo a população sobre o que foi prometido e o que de fato ocorreu. Nem emprego como agente de serviços gerais foi preenchido com mão de obra local na base da Petrobras, uma estrutura gigantesca em pleno coração da Amazônia. Nutricionistas, engenheiros, técnicos especializados e demais funcionários são de Estados bem distantes de Manaus, a 700 km da reserva.
Não sou contra o progresso e sei que fatalmente ele tem um preço, mas condeno a forma como está sendo conduzido o processo para a construção da usinas. Porto Velho tem o privilégio de ter um rio majestoso como o Madeira, as pessoas convivem com ele e milhares tiram dali o sustento. Os escombros da ferrovia Madeira Mamoré estão por toda a parte, mas temos que fazer questão de cada palmo onde se encontram. É como se fosse um retrato velho, meio apagado, mas que lembra um fato importante da nossa vida e por isso fazemos questão de guardar até a morte.

(Fonte: TudoRondonia.com.br)

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa que triste não é?
Mais um pouquinho da nossa história indo embora...
Um beijão, Ursa