quinta-feira, 25 de junho de 2009

TUPI
Língua original do Brasil

(Trechos de matéria de Sylvia Estrella, publicada no blog Passando a Língua )

O Padre José de Anchieta foi o principal compilador do tupi.
A língua tupi é aglutinante (uma frase é dita em uma palavra), não possui artigos, como o Latim e não flexiona em gênero e nem em número. Um bom exemplo do tupi é: Paranapiacaba = parana+epiaca+caba, mar+ver+lugar+onde. Ou, lugar de onde se vê o mar, a vila fica a 40km de São Paulo, bem na Serra do Mar e de lá se avista a Baixada Santista.
Por causa da obra do padre Anchieta, no final do século 16, com sua Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil e do jesuíta Luís Figueira, com a A Arte da Língua Brasílica, “o tupi é a língua indígena mais bem-documentada e preservada que temos”, diz o professor Eduardo Navarro, pesquisador da matéria na Universidade de São Paulo.

Ele afirma que o tupi é importante para se entender a cultura brasileira. “O brasileiro já nasce falando tupi, mesmo sem saber. O português falado em Portugal diferencia-se do nosso principalmente por causa das expressões em tupi que incorporamos. Essa incorporação é tão profunda que nem nos damos conta dela. Mas é isso o que faz a nossa identidade nacional. Depois do português, o tupi é a segunda língua a nomear lugares no País”.

A lista de nomes é extensa e continua aumentando. Há milhares de expressões, como:
Ficar com nhenhenhém – que quer dizer falando sem parar, pois nhe’eng é falar em tupi.
• Chorar as pitangas – pitanga é vermelho em tupi; então, a expressão significa chorar lágrimas de sangue.
• Cair um toró – tororó é jorro d’água em tupi, daí a música popular “Eu fui no Itororó, beber água e não achei”.
• Ir para a cucuia - significa entrar em decadência, pois cucuia é decadência em tupi.
• Velha coroca é velha resmungona – kuruk é resmungar em tupi.
• Socar – soc é bater com mão fechada.
• Peteca - vem de petec que é bater com a mão aberta.
• Cutucar - espetar é cutuc.
• Sapecar - é chamuscar é sapec, daí sapecar e sapeca.
• Catapora – marca de fogo, tatá em tupi é fogo.


O significado de grande parte dos nomes de lugares só se sabe com o tupi. Como nomes de bairros da cidade de São Paulo.
• Pari é canal em que os índios pescavam,
• Mooca é casa de parentes,
• Ibirapuera é árvore antiga,
• Jabaquara é toca dos índios fugidos,
• Mococa é casa de bocós – bocó é tupi.

Na fauna e flora brasileiras, o tupi aparece massivamente: tatu, tamanduá, jacaré. Até nas artes ele é encontrado – como o famoso quadro de Tarsila do Amaral, o Abaporu, que quer dizer antropófago (canibal) em tupi.
Segundo o professor Navarro, o tupi foi a língua mais falada do Brasil até o século 18 e foi a segunda língua oficial do Brasil junto com o português até o século 18. Só deixou de ser falado porque o Marquês de Pombal, em 1758, proibiu o ensino do tupi. O tupi antigo era conhecido até o século 16 como língua brasílica. No século 17, ele passou a ser chamado de língua geral, pois incorporou termos do português e das línguas africanas. Mas continuava sendo uma língua indígena, assim como é até hoje o guarani no Paraguai, falado por 95% da população. A dissolução do tupi foi rápida porque a perseguição foi muito violenta. Mesmo assim, até o século 19 ainda havia muitos falantes do tupi. Hoje, a língua geral só é falada no Amazonas, no alto Rio Negro – chama-se nhengatú e tem milhares de falantes entre os caboclos, índios e as populações ribeirinhas.
O professor Navarro conta que o nheengatú foi preservado na Amazônia porque lá a presença do Estado era mais fraca. “Na Amazônia, o português só se tornou língua dominante no final do século 19. Isso porque, em 1877, houve uma seca terrível no Nordeste, o que ocasionou a saída de 500 mil nordestinos da região, que foram para a Amazônia levando o português”.
Apesar do tupi ser uma língua morta, é também uma língua clássica, pois foi fundamental para a formação de uma civilização, assim como o foram o latim, o sânscrito e o grego, que é uma língua clássica ainda falada. O tupi foi fundamental também para a unidade política do Brasil. Havia outras línguas indígenas que não tinham relação com o tupi, como a dos índios Guaianazes e Goitacazes. Mas eram línguas regionais. O tupi evoluiu para outras línguas além da geral. No Xingu, há línguas que vêm do tupi antigo e são faladas até hoje.

3 comentários:

Maria Clarinda disse...

Que bom foi ficar a saber tudo isto...já guardei para ir fixando...mais uma vez obrigada.Jhs grandes

Noé disse...

Muito bom, quanta informação interessante.
Pergunto sobre o conhecimento tupi, e indígena em geral, onde há registro? Como acessá-lo?

Angela Ursa disse...

Clarinda, existem muitas palavras incorporadas à língua portuguesa que são de origem tupi. A gente não tem idéia de quantas são.
Beijos!

Noé, minha fonte maior de informações sobre os temas indígenas é o Google. Abraços florestais da Ursa :))